SALA DOS MAPAS
DAS ILHAS FLUTUANTES
por EMA M
Integrada na exposição colectiva VIAGEM
curadoria: EMÍLIA FERREIRA e ALEXANDRA CANELAS
14 de Março a 06 de Setembro de 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes - O Barco, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes - A Legenda, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015
"Lisboa,
19 de Março de 2015
Cara amiga,
Espero que se encontre bem nesse lugar maravilhoso
junto ao Tejo que recordo sempre habitado ou por um sol radioso ou densos e
gelados nevoeiros.
Escrevo-lhe a propósito de um Mapa que me veio parar
às mão por obra e graça de um testamento. Recebi uma carta, ou melhor, um
pacote vindo da Holanda cujo remetente é uma antiquíssima firma de advogados
(parece que a advocacia é o negócio desta família). Aparentemente, como
representantes dos famíliares de Jodocus Hondius, editores de mapas desde o
século XVI, encontraram nos seus arquivos este pacote por enviar e destinado a
um antepassado meu. De imediato, e porque o dito pacote tinha sido deixado aos
seus cuidados, fizeram uma investigação que os trouxe até mim, como legítima
herdeira da pessoa que procuravam. Mas isto só interessa porque dentro do
pacote encontrei algumas cartas e sete espantosas anotações cartográficas de
derivas e desorientações – Mapas das Ilhas Flutuantes – que foram desenhadas
por um marinheiro e, ao que parece, entregues
ao próprio Jodocus Hondius para os redesenhar e publicar. Como sabe, há
muitas gerações atrás, a minha família também
estava ligada à cartografia e alguns dos meus familiares navegaram pelo mundo
para conferir os dados dos vários mapas que elaboraram, aliando o registo à
experiência. Foi este o motivo pelo qual Hondius lhes enviou os desenhos e cito:
“Caro colega, peço que me auxilie pois estou
verdadeiramente desorientado na descodificação destes gatafunhos. A Rosa-dos-Ventos
surge várias vezes representada em cada mapa, indicando posições diferentes
para o Norte e assim, desnorteado, não sei como interpretar o que vejo. Nenhum
dos nomes inscritos é referido em qualquer dos mapas que já fiz. O Mar é Só Mar o que me impede de o localizar no
Mapa Mundi . Diga-me, pois é um homem
com experiência, sabe onde ficam estas ilhas?”
A resposta foi breve: “Hondius, as páginas que me
enviou marcam a minha profunda ignorância do Mundo. Devolvo-lhas pois desconheço
em absoluto qualquer um destes lugares. Que indicações lhe deu o encomendador?
Contou-lhe alguma coisa que nos possa elucidar sobre estes mapas?”
E é aqui que estes desenhos me começaram a interessar
pois Hondius respondeu com uma história maravilhosa. Parece que o marinheiro,
ao pedir o registo rigoroso e cartográfico dos seus rabiscos, lhe contou que os
desenhara durante uma enorme viagem. Ainda jovem tinha-se voluntariado para ir
pelo Mar fora, à descoberta de mais Mundo. Queria ser rico. Queria ter terras.
Mas a viagem foi dura e longa e, embora tivesse encontrado terras, num dia
estavam lá e no outro desapareciam como se fossem fantasmas. À procura pelo Mar
fora, refazendo percursos, às voltas, aos recuos, a terra firme que raramente se
avistava era pisada durante dias inteiros para descanso de todos os
marinheiros. À ida tinham seguido obstinadamente a Estrela da manhã. O caminho
traçado para o regresso deveria passar pelas mesmas Ilhas, e – jurava o
marinheiro – foi com muitos cálculos que o desenharam. Mas as terras escapavam aos
pontos fixos pelo desenho. Só a Ilha com o vulcão mais alto foi avistada de
longe, flutuando ao sabor das correntes marítimas. As outras, sem elevações,
desapareceram totalmente do mapa e da vista, deambulando no desconhecido. Foi
por isto que as nomearam de Flutuantes.
E termina aqui a curta explicação do marinheiro, que
faleceu logo após a sua visita a Hondius, por falta de vitaminas.
Ao que parece, Hondius dedicou-se ao fenómeno das
Ilhas Flutuantes, o que o levou a guardar os desenhos do marinheiro e a viajar.
Numa das suas viagens relatadas no pacote que me chegou, afirma: “Caro amigo,
volto a escrever-lhe a propósito das Ilhas Flutuantes que se tornaram a
obsessão da minha vida. Hoje cheguei a terra firme, depois de navegar durante
cem dias. Ao pôr os pés no chão, senti-o oscilante, como se a terra boiasse na
água. Há dias avistei de muito longe o que me pareceu uma montanha – miragem,
talvez? – e lancei a âncora pois estava a anoitecer. No dia seguinte, a
montanha desaparecera do horizonte.”
Querida amiga, como sei que gosta de histórias e tem
um interesse particular por cartografias, envio-lhe os desenhos dos Mapas das
Ilhas Flutuantes feitos pelo marinheiro de Hondius, para deleite da sua
imaginação. Diga-me o que lhe parecem.
Beijos deste lado do Tejo,
Da sua amiga,
Ema M"
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Sem Nome, Ilha em forma de "i", Ilha do Meio
72 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha d' Aqui e Ilha D' Ali,
70 x 50 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilhas do Desnorte,
100 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Maior e Ilha Menor,
76 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Nova,
50x70cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Primeira e Arquipélago da Ilha Primeira,
70 x 100 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha à To(n)a, 50 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015
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