segunda-feira, 23 de março de 2015

A SALA DOS MAPAS DAS ILHAS FLUTUANTES NA CASA DA CERCA

SALA DOS MAPAS 

DAS ILHAS FLUTUANTES 

por EMA M

Integrada na exposição colectiva VIAGEM
curadoria: EMÍLIA FERREIRA e ALEXANDRA CANELAS

14 de Março a 06 de Setembro de 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




 Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes - O Barco, Casa da Cerca, Almada, 2015



Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes - A Legenda, Casa da Cerca, Almada, 2015




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015 




Ema M, Vista da Sala dos Mapas das Ilhas Flutuantes, Casa da Cerca, Almada, 2015


"Lisboa, 19 de Março de 2015


Cara amiga,

Espero que se encontre bem nesse lugar maravilhoso junto ao Tejo que recordo sempre habitado ou por um sol radioso ou densos e gelados nevoeiros.
Escrevo-lhe a propósito de um Mapa que me veio parar às mão por obra e graça de um testamento. Recebi uma carta, ou melhor, um pacote vindo da Holanda cujo remetente é uma antiquíssima firma de advogados (parece que a advocacia é o negócio desta família). Aparentemente, como representantes dos famíliares de Jodocus Hondius, editores de mapas desde o século XVI, encontraram nos seus arquivos este pacote por enviar e destinado a um antepassado meu. De imediato, e porque o dito pacote tinha sido deixado aos seus cuidados, fizeram uma investigação que os trouxe até mim, como legítima herdeira da pessoa que procuravam. Mas isto só interessa porque dentro do pacote encontrei algumas cartas e sete espantosas anotações cartográficas de derivas e desorientações – Mapas das Ilhas Flutuantes – que foram desenhadas por um marinheiro e, ao que parece, entregues  ao próprio Jodocus Hondius para os redesenhar e publicar. Como sabe, há muitas gerações atrás, a minha família  também estava ligada à cartografia e alguns dos meus familiares navegaram pelo mundo para conferir os dados dos vários mapas que elaboraram, aliando o registo à experiência. Foi este o motivo pelo qual Hondius lhes enviou os desenhos e cito:

“Caro colega, peço que me auxilie pois estou verdadeiramente desorientado na descodificação destes gatafunhos. A Rosa-dos-Ventos surge várias vezes representada em cada mapa, indicando posições diferentes para o Norte e assim, desnorteado, não sei como interpretar o que vejo. Nenhum dos nomes inscritos é referido em qualquer dos mapas que já fiz. O Mar é Só Mar o que me impede de o localizar no Mapa Mundi . Diga-me, pois é um homem com experiência, sabe onde ficam estas ilhas?”

A resposta foi breve: “Hondius, as páginas que me enviou marcam a minha profunda ignorância do Mundo. Devolvo-lhas pois desconheço em absoluto qualquer um destes lugares. Que indicações lhe deu o encomendador? Contou-lhe alguma coisa que nos possa elucidar sobre estes mapas?”

E é aqui que estes desenhos me começaram a interessar pois Hondius respondeu com uma história maravilhosa. Parece que o marinheiro, ao pedir o registo rigoroso e cartográfico dos seus rabiscos, lhe contou que os desenhara durante uma enorme viagem. Ainda jovem tinha-se voluntariado para ir pelo Mar fora, à descoberta de mais Mundo. Queria ser rico. Queria ter terras. Mas a viagem foi dura e longa e, embora tivesse encontrado terras, num dia estavam lá e no outro desapareciam como se fossem fantasmas. À procura pelo Mar fora, refazendo percursos, às voltas, aos recuos, a terra firme que raramente se avistava era pisada durante dias inteiros para descanso de todos os marinheiros. À ida tinham seguido obstinadamente a Estrela da manhã. O caminho traçado para o regresso deveria passar pelas mesmas Ilhas, e – jurava o marinheiro – foi com muitos cálculos que o desenharam. Mas as terras escapavam aos pontos fixos pelo desenho. Só a Ilha com o vulcão mais alto foi avistada de longe, flutuando ao sabor das correntes marítimas. As outras, sem elevações, desapareceram totalmente do mapa e da vista, deambulando no desconhecido. Foi por isto que as nomearam de Flutuantes.  

E termina aqui a curta explicação do marinheiro, que faleceu logo após a sua visita a Hondius, por falta de vitaminas.
Ao que parece, Hondius dedicou-se ao fenómeno das Ilhas Flutuantes, o que o levou a guardar os desenhos do marinheiro e a viajar. Numa das suas viagens relatadas no pacote que me chegou, afirma: “Caro amigo, volto a escrever-lhe a propósito das Ilhas Flutuantes que se tornaram a obsessão da minha vida. Hoje cheguei a terra firme, depois de navegar durante cem dias. Ao pôr os pés no chão, senti-o oscilante, como se a terra boiasse na água. Há dias avistei de muito longe o que me pareceu uma montanha – miragem, talvez? – e lancei a âncora pois estava a anoitecer. No dia seguinte, a montanha desaparecera do horizonte.”

Querida amiga, como sei que gosta de histórias e tem um interesse particular por cartografias, envio-lhe os desenhos dos Mapas das Ilhas Flutuantes feitos pelo marinheiro de Hondius, para deleite da sua imaginação. Diga-me o que lhe parecem.

Beijos deste lado do Tejo,
Da sua amiga,
Ema M"



  Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Sem Nome, Ilha em forma de "i", Ilha do Meio 
72 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015 





 Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha d' Aqui e Ilha D' Ali
70 x 50 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015 




 Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilhas do Desnorte
100 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015  




 Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Maior e Ilha Menor, 
76 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015 




Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Nova
50x70cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015





 Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha Primeira e Arquipélago da Ilha Primeira
70 x 100 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015




  Ema M, Mapa das Ilhas Flutuantes: Ilha à To(n)a, 50 x 70 cm, tinta da china s/ papel vegetal, 2015



HAIKAY - EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DE EMA M



HAIKAY

Galeria AmareloNegro Arte Contemporânea 

Rio de Janeiro, Brasil

Curadoria de Zalinda Cartaxo

17 de Dezembro de 2014 a 16 de Janeiro de 2015




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15  




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 





 Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 




Ema M, Vista da exposição Haikay na Galeria AmareloNegro, 2014-15 





Ema M | haikai

TEXTO CURATORIAL

A afinidade entre a pintura e a poesia há muito se faz latente na produção de Ema M, seja pela riqueza da sua escala cromática, pela inserção da palavra no espaço pictórico, pelo lirismo das suas imagens ou, ainda, pela delicadeza do seu fazer. O reconhecimento, pela artista, dos atributos dos poemas haikai * justifica o título desta exposição. Ema M apresenta sete poemas visuais cuja ordem se repete com a representação de uma casa, do retrato de uma boneca (a partir da fotografia de catálogos antigos) e de um sólido geométrico devidamente nomeado pela escrita. As casas representadas confrontam a geometria sensível que, aparentemente, revelam sua estrutura interior, com a tectônica lírica da sua construcção, em que as manchas da aquarela colaboram na elaboração de um lugar poético. No mesmo conjunto, a imagem infantil de uma boneca envolta em vegetais indica o confronto entre o natural (a vegetação) e o artificial (a boneca-sujeito-simulacro). Concluindo a tríade do haikai, a representação de um poliedro devidamente nomeado materializa o ser-consciência que prevalece à determinação. A subjetividade é recorrente nos poemas visuais de Ema M: no uso do papel artesanal, na contida gestualidade e na explícita referência às condições do sujeito em seu estar-no-mundo. A casa como metáfora do abrigo, o sujeito aqui representado (como boneca-simulacro) a partir do seu eterno conflito com o mundo (natura naturans X natura naturata) e o poliedro como revelador da vontade de organização, transformação e classificação do mundo, desenham uma circularidade temporal que revela a complexa relação que o homem mantém com o seu locus. Os haikai de Ema M constituem-se como um exercício reflexivo e poético da nossa existência.


Zalinda Cartaxo
Dezembro de 2014


* “(...) Pequeno poema de apenas três versos (...) que evoca uma delicada impressão do mundo das plantas ou dos animais, da natureza ou do homem, à vezes com um toque de lirismo melancólico ou nostalgia, outras, com um rasgo de ligeiro humor” in Johan Huizinga, Homo Ludens - O Jogo Como Elemento da Cultura.






 Ema M, Haikai 1, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão, 30x21cm

(140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2).




Ema M, Haikai 2, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão, 
30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2






Ema M, Haikai 3, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão, 30x21cm
(140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2).






Ema M, Haikai 4, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão,
30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2)






Ema M, Haikai 5, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão,

30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2 





Ema M, Haikai 6, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão,
30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2)






Ema M, Haikai 7, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão,

30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2)





 Ema M, Haikai 8, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão, 
30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2)







Ema M, Haikai 9, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão,

30x21cm (140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2)




Ema M, Haikai 10, 2014, aguarela sobre papel de algodão feito à mão, 30x21cm
(140 g/m2), 40x30cm (180 g/m2), 60x76cm (240 g/m2)